terça-feira, 10 de maio de 2016

Vamos dar um tempo para um cafezinho?

Vamos dar um tempo, para um cafezinho?




No início de uma daquelas manhãs de trabalho, onde tudo parecia conspirar para dar errado na vida do Euclides, um supervisor de produção, que havia recém acordado de uma noite mal dormida, onde por diversas vezes foi surpreendido pensando nos problemas que teria que resolver em seu trabalho no dia seguinte, quando já  atrasado, tentando engolir seu café da manhã, foi interrompido por um telefonema da empresa, onde um dos líderes do 3° turno pedia para que ele procurasse chegar mais cedo, pois os funcionários haviam decidido entrar em greve.

Era tudo o que ele não precisava naquele momento, pois a produção estava atrasada, haviam vários problemas de produtividade e falta de motivação por parte de vários funcionários, além de um compromisso de vendas assumido pela empresa com vários lotes de produção de alguns produtos destinados à exportação, o qual tinham prazo para serem expedidos ainda naquela semana, e enviados ao porto marítimo, sob o risco de perder o embarque da mercadoria no navio, além do fato de no contrato existirem algumas cláusulas referentes a multas a serem pagas em caso de atraso, o que contribuía para piorar um pouco mais a sua situação como responsável pela produção.

O dia a dia do Euclides, era repleto de conflitos entre as pessoas, o que exigia alta habilidade de sua parte em negociações, bem como de alta resiliência para superar a pressão exercida pelos seus superiores.

Euclides por diversas vezes se pegou pensando, se tudo aquilo valia a pena ser vivido em sua vida profissional, chegando mesmo a pensar em sair em busca de um novo emprego que lhe desse estabilidade, com menores responsabilidades, mas ao mesmo tempo queria manter seu padrão salarial, o qual garantia certo conforto econômico e padrão social para sua família, mesmo que o trabalho atual consumisse praticamente todo o seu tempo, não sobrando quase tempo para curtir a vida junto da sua família e amigos.

O tempo estava passando, as responsabilidades aumentando, bem como as cobranças da família e amigos que reclamavam quanto a sua ausência na vida social, o que lhe perturbava a ponto de começar a interferir no seu desempenho profissional, com claros sintomas de estresse emocional.

Certo dia estava Euclides como de costume além do seu horário de trabalho, em sua mesa cuidando de alguns relatórios para uma importante reunião que teria no dia seguinte, quando o Sr. Mário, diretor presidente da empresa, já se dirigindo ao estacionamento para deixar a empresa, notou o Euclides ainda trabalhando fora do seu horário de trabalho, como já o havia visto por diversas vezes, e nesse dia decidiu antes de se despedir perguntar ao Euclides, o que ele tanto fazia além do horário de trabalho, uma vez que toda e qualquer hora extra ou banco de horas estavam proibidos sem motivos altamente justificáveis, e portanto o Euclides não receberia por aquilo.

Euclides, tentou explicar de que atuava daquela maneira, independentemente do pagamento por aquilo, alegando que tinha compromissos  e responsabilidades assumidos com a empresa e por uma questão de princípios entendia que essa era a forma de realizar o trabalho, uma vez que existiam diversos problemas a serem resolvidos e se não tomasse as rédeas da situação, tudo poderia piorar ainda mais. 

O Sr. Mário com toda a sua experiência percebeu que ali tinha algo de errado, e sem maiores questionamentos fez um convite ao Euclides - "Vamos dar um tempo para um cafezinho?" - "Aceita tomar um café comigo?".

Euclides embora muito atarefado e ansioso por dar continuidade ao seu trabalho, não encontrou argumentos para negar esse convite do diretor presidente.

Juntos se dirigiram à copa da empresa, onde o Sr. Mário solicitou à atendente duas xícaras vazias e um bule de café. 

Enquanto a atendente providenciava o pedido, o Sr. Mário dirigiu-se ao Euclides com sua franqueza habitual dizendo que já a algum tempo vinha notando sua presença na empresa além do horário de trabalho, e que por um lado admirava essa tipo de postura, mas que por outro lhe deixava preocupado, pois essa atitude poderia ser um sinal de improdutividade.

Nesse momento Euclides, gelou da cabeça aos pés, pensando consigo mesmo, "Meu emprego acabou, com certeza serei demitido, as coisas não estão nada bem na produção e ainda agora com essa situação de greve, certamente serei responsabilizado por isso", mas antes que pudesse dizer qualquer palavra, a atendente os interrompeu trazendo as xícaras e o bule de café.

O Sr. Mário, a dispensou de servir o café, alegando que ele mesmo o faria, mas antes de o fazer, continuou a conversa e disse ao Euclides, "Em qualquer área das nossas vidas, a preparação é fundamental para se conseguir chegar ao sucesso tanto profissional como pessoal. Sem um alicerce forte. não se pode construir qualquer estrutura que resista às intempéries e ao tempo, onde a construção desse alicerce, começa na autoliderança, na preparação interior. 

O Sr. Mário era conhecido na empresa pela sua sabedoria de vida e equilíbrio ao enfrentar as situações adversas, por mais complexas que estas pudessem parecer, e dificilmente alguém na empresa o viu alterado com alguém ou com alguma situação, agindo sempre de forma congruente com seus valores, fazendo o que falava.

O Sr. Mário continuou dizendo ao Euclides, "As nossas mentes são como antenas receptoras de TV, que recebem todo tipo de informação o tempo todo independentemente da nossa vontade, e que ela possui uma espécie de seletor ou filtro que mantém algumas informações em nível consciente e outras em nível subconsciente, o que faz com que criemos a nossa realidade particular conforme nossas vivências passadas".

Euclides, sentiu-se um pouco mais aliviado ao perceber que o Sr. Mário não estava ali naquele momento querendo lhe criticar, culpá-lo ou mesmo demiti-lo, e colocou-se mais a vontade para ouvir o que ele dizia.

A explicação continuou, evidenciando que: "De certa forma aprendemos de maneira constante através do que ouvimos, vemos e sentimos, cujas percepções são filtradas e armazenadas em nossa mente, sejam estas percepções, coisas positivas ou negativas para nós, e isto nada mais é do que chamamos de crenças, ou seja, tudo aquilo que tomamos em nossa vida como verdades absolutas, sejam estas oriundas de crenças limitantes ou de crenças libertadoras".

O Sr Mário continuou: "Na verdade Euclides, você é o que pensa que é, e você tem potencial para realizar tudo o que você acredita, portanto tenha muito cuidado com o que você pensa e afirma. Lembre-se, tudo que você afirmar para si mesmo, enviará uma mensagem para o seu subconsciente, que por sua vez é capaz de transformá-las com altíssima eficácia em atitudes, que se repetidas várias vezes podem se tornar hábitos, os quais são refletidos nos seus comportamentos".

Euclides, continuava ouvindo atentamente o Sr. Mário, quando este tocou num assunto que lhe caiu como uma luva, quando disse: "Muito cuidado ao pensar ou dizer algo como: "Tenho que trabalhar..., Tenho que fazer..., utilizando-se de entonações negativas, ou de obrigações punitivas e ao invés disto procure ensinar coisas positivas ao seu cérebro subconsciente, substituindo tais afirmações por algo como: Eu sou capaz..., Eu escolho fazer...., Eu estou aprendendo..., Eu sou capaz de....., expressões estas as quais com o tempo transformarão suas atitudes e resultados, em algo mais positivo.

E continuou: "É claro que isto exige bastante disciplina e força de vontade, para você conseguir reprogramar sua mente e evitar a autossabotagem, e além disto existe a necessidade de cultivar a humildade e a honestidade para saber reconhecer seus pontos fortes e fracos e ter a sabedoria de estar sempre com a mente aberta para aprender algo novo".

A essa altura da conversa o café já estava praticamente frio, quando o Sr. Mário solicitou ao Euclides para que se service de café e que em seguida fizesse o favor de servi-lo também.

Euclides o atendeu solicitamente, e quando ia lhe passar a xícara com o café, o Sr. Mário solicitou-lhe para que colocasse mais café. Mesmo estranhando o pedido, Euclides colocou um pouco mais de café quase completando a xícara.

Mais uma vez o Sr. Mário insistiu para que colocasse mais café na xícara dele, e dessa vez Euclides contra argumentou que não caberia mais café na xícara, pois ela já estava muito cheia e se continuasse a completá-la o café iria transbordar.

Mesmo assim, o Sr. Mário voltou a lhe solicitar para continuar a colocar café na xícara dele até acabar o café do bule. Euclides relutou, mas fez o que o diretor estava pedindo e claro, o café transbordou para a bandeja e para a mesa.

Nesse momento o Sr. Mário deu um pequeno sorriso e perguntou ao Euclides, "O que você aprendeu com isto?"

Euclides sem entender o que se passava, em tom apreensivo respondeu, "Não aprendi nada, pois sabia que se continuasse o café transbordaria como de fato aconteceu".

O Sr. Mário disse-lhe então, "Não se preocupe, fique tranquilo, isto não é um teste, é apenas uma forma que encontrei para tentar lhe ajudar na sua postura do dia a dia. O que eu lhe propus para que fizesse com o o café e a xícara serviu para lhe mostrar que nossa mente é como a xícara e o café representa os novos conhecimentos e a percepção de novas oportunidades, ou seja, quando a nossa mente está totalmente cheia de pensamentos e de verdades em forma de crenças, não sobra espaço para mais nada, ficamos bloqueados para os novos ensinamentos, para a percepção de novas oportunidades, levando-nos a viver num ciclo vicioso com foco nas experiências do passado".

E continuou: "Portanto Euclides, se você passar a reprogramar e ressignificar suas crenças e a esvaziar sua mente para permitir que o novo possa entrar sem paradigmas, você estará criando a oportunidade para que se manifeste a melhor versão de si mesmo, adquirindo equilíbrio e sabedoria para enfrentar as adversidades que venham a surgir na sua vida, e acima disto, você desenvolverá o potencial para ser um líder inspirador, afinal se um líder não possui equilíbrio e sabedoria, como poderá ser um exemplo aos seus subordinados? Percebe que a responsabilidade de liderar é muito grande? Não se trata apenas de um status social, você não está lidando somente com os seus subordinados, está lidando indiretamente com as pessoas e famílias que dependem desses subordinados.

Euclides começou então a perceber que estava liderando preso aos seus paradigmas e crenças limitantes, e que estava contaminando seus subordinados, os quais por sua vez não entregavam os resultados que tinham potencial para realizar e cada vez mais o clima organizacional e os resultados da empresa pioravam.

O Sr. Mário então ajudou o Euclides a limpar o café derramado na bandeja e na mesa e disse-lhe mais uma vez, "Vamos dar um tempo para um cafezinho? Agora de verdade?" e desta vez pediu à atendente dois cafés, e enquanto esta preparava os cafés, o Sr. Mário explicou ao Euclides: "Toda essa aparente confusão foi para tentar simular na prática a fábula chinesa da Xícara de Chá Cheia e agora com ambos saboreando o café quentinho, contou-lhe a fábula, explicando que preferiu tomar uma ação prática e o fazer experienciar a situação, ao invés de simplesmente contar uma fábula, pois sempre acreditou que a melhor forma de ensinar é fazendo.


Abraços
Herbert E. A. Silva

OBS: Este artigo é uma adaptação da fábula Chinesa - A Xícara de Chá Cheia, a qual pode ser encontrada facilmente na Internet.


Licença Creative Commons

Este trabalho de Herbert E. A. Silva, está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional.
Baseado no trabalho disponível em www.kounsel.blogspot.com.br..

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